Os beija-flores, também denominados colibris, são termos comuns que se referem à qualquer uma de 362 espécies classificadas dentro de 113 gêneros reconhecidos, e se encontrando distribuídos desde o sul do Alasca ao extremo sul da Patagônia, no arquipélago da Terra do Fogo;[4][5] embora grande parte das espécies se encontre na região dos trópicos equatorianos. São aves pequenas, com uma parcela significativa de suas espécies medindo entre 7,5 e 13 centímetros de comprimento, embora algumas sejam muito maiores ou, até muito menores.[6] Dentre todos as espécies descobertas, sua maior espécie é o beija-flor-gigante (Patagona gigas), uma ave monotípica e monofílica, ao que a menor é o beija-flor-abelha (Mellisuga helenae).[7] Cientificamente, os beija-flores estão classificados dentro da família dos troquilídeos (Trochilidae) que, por sua vez, está localizada dentro da ordem dos Apodiformes, que é constituída por pequenas aves com asas grandes e pés pequenos atrofiados, com garras nas pontas, usados para se empoleirar ou pousar.[8] Sendo restritos ao continente americano, têm seu nicho ecológico preenchido no Velho Mundo pelos nectaríinideos.[9] Existem, ainda, evidências de fósseis de algumas aves europeias pré-históricas, descobertos na região sudeste da França e Alemanha e datados do Paleogeno, que se assemelham aos beija-flores morfologicamente, mas extremamente divergentes no âmbito genético.[10][11][12] Em inglês, são chamados de "hummingbirds".[13]
A história natural dos beija-flores se inicia ainda nos primórdios da zoologia e, subsequentemente, da ornitologia, iniciando-se com descrições realizadas pelo sueco Carlos Lineu, e publicadas na décima edição do Systema Naturæ, estas locadas no gênero Trochilus, que, posteriormente, se tornaria o gênero-tipo da subfamília dos troquilíneos, dentro da família. Hoje, a maioria dos identificadores taxonômicos classifica-os dentro da ordem Apodiformes, porém, a BirdLife International considera-os pertencentes aos Caprimulgiformes, ao que a Lista de Aves de Sibley—Monroe, publicada originalmente em 1990, classifica os beija-flores dentro de uma ordem monotípica, que foi conhecida por Trochiliformes.[14][15] Os beija-flores se encontram divididos em seis subfamílias, além de mais seis tribos, respectivamente, os troquilíneos (inclui tribos Trochilini, Mellisugini e Lampornithini), os fetornitíneos, os lesbíineos (que inclui as tribos Lesbiini e Heliantheini), os politmíneos, os florisugíneos e os patagoníneos.[16][17][18] Entretanto, até a década de 2010, esta família incluía apenas as duas primeiras subfamílias, porém, diversos estudos filogenéticos moleculares confirmaram uma divisão de nove clados existentes neste táxon.[19] O cladograma abaixo foi realizado através dos estudos filogenéticos publicados por McGuire et al.:
Estas aves são conhecidas no português brasileiro como beija-flores, e no português europeu como colibris, entretanto, outros nomes populares incluem cuitelo, cuitelinho, guanambi, guanumbi, guinumbi, guainumbi, pica-flor, chupa-flor, chupa-mel e suga-flor, e em guarani, estas aves são conhecidas popularmente como mainoĩ.[20][21] Além disso, muitas espécies têm nomes específicos às mesmas, como os calçudos dos gêneros Haplophaedia e Eriocnemis, bem como os balança-rabos dos gêneros Glaucis e Threnetes, os rabos-brancos, os cometas de Sappho, Polyonymus e Taphrolesbia; e os bicos-de-lança, além de nomes exóticos como os helianjos, os metaluros ou os incas.[22] A maioria dos beija-flores brasileiros possui distribuição na região nordeste do país, em altitudes entre 500 e 1500 metros acima do nível do mar. A maior biodiversidade destas aves ocorre nas regiões andinas da Colômbia e Equador;[23] no Brasil, terceiro país com a maior biodiversidade do mundo, apresenta cerca de 84 espécies, com 16 sendo endêmicas.[24] A maioria dos beija-flores é residente, com algumas espécies realizado migrações sazonais ao sul. São polinizadores e forrageadores, e se alimentam principalmente do néctar das flores nativas ou introduzidas — onde introduzem sua língua dentro das flores, sugando o pólen e o néctar —,[25][26] e complementando sua dieta alimentando-se de pequenos insetos e outros artrópodes.[27] A maioria de suas espécies é sexualmente dimórfica, onde as fêmeas apresentam cores mais opacas e, às vezes, os machos podem ser menores.[28] A maioria destas aves são extremamente territorialistas, competindo com insetos, outros beija-flores e, ainda, com aves muito maiores, como os fura-flores.[29][30][31] Nesse contexto, as espécies menos competitivas são submissas e frequentemente assediadas pelas espécies mais agressivas.
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