Our website is made possible by displaying online advertisements to our visitors.
Please consider supporting us by disabling your ad blocker.

Responsive image


Oikos

Mapa da Grécia no período arcaico (750-490 a.C.). As áreas delimitadas em azul correspondem à parte da Grécia continental que manteve a predominância do oikos mesmo após o surgimento da pólis.

Oikos (grego:οἶκος, plural: οἶκοι)[1] o equivalente ao termo "agregado familiar" na Grécia Antiga, é o conjunto de bens e pessoas que constituía a unidade básica humana desde antes do surgimento da primeiras pólis gregas, formado pela família em sentido amplo (mais além da família nuclear) incluindo esta, desde a cabeça do oikos (o telestai -geralmente homem sénior, e por isso inspirando a figurado paterfamilias romano-) até os aos ajudantes e os animais que viviam juntos no ambiente doméstico. Os maiores oikos geralmente incluía extensas explorações agrícolas que foi também a unidade básica de supervivência na economia antiga.

O oikos funcionava como uma unidade biológica, antropológica, económica e social autárquica, "era o centro em torno do qual se organizava a vida", a partir do qual se satisfaziam não só as necessidades materiais, incluindo a segurança, mas também as normas e os valores éticos, os deveres, as obrigações e as responsabilidades, as relações sociais e as relações com os deuses.

O oikos não era apenas a família, era todo o pessoal doméstico e os seus bens. A gestão do oikos significava simultaneamente a gestão de uma exploração agrícola e a governação e manutenção da paz na família. Em contraste com a ostentação dos palácios de Menelau ou de Alkinoos, o palácio de Ítaca é um "palácio de segunda classe", cuja relação faz de Odisseu "o herói do oikos".

Representava os interesses do oikos (privado) perante a pólis (público).[2] O conceito de família em oikos é diferente do conceito habitual de família na modernidade. No uso padrão, o oikos se referia à linha de descendência do pai para o filho, de geração em geração.[3] Alternativamente, conforme Aristóteles define na Política, o termo era algumas vezes usado para se referir a qualquer um vivendo em uma dada casa. Assim, a cabeça do oikos, e todos os familiares diretos e seus escravos, seriam envolvidos.[4]

Ou seja, quando falamos sobre a família no oikos não nos restringimos apenas a laços consanguíneos. Todos os que contribuíam, de alguma forma, para o bem estar e desenvolvimento do oikos eram considerados família. Oikos maiores também tinham fazendas em que os escravos normalmente trabalhavam, e que eram a unidade de agricultura básica da economia antiga. Uma das características do oikos é o ideal de autossuficiência, ou seja, tudo que era necessário para sobrevivência deveria ser produzido dentro do seu núcleo familiar.

Na Grécia clássica, porém, a estrutura arcaica do oikos como unidade agrária cede espaço à definição mais específica de oikos como núcleo familiar, ainda que expandido. Nesse sentido, o tratado Econômico, de Xenofonte, versa sobre a administração do lar ("economia" = oikos, "lar" + nomos, "lei") e sobre o papel do homem, marido e administrador da casa, e da mulher.[5]

O "oikos" não era apenas a família, mas todo o pessoal doméstico e os seus bens. Gerir um oikos significava gerir uma quinta, governar e manter a paz na família. Em contraste com o aparato dos palácios de Menelau ou Alquino, o de Ítaca é um "palácio de segunda classe", cuja relação faz de Odisseu "o herói do oikos".[6]

Estas definições aplicam-se desde o VIIIº século até ao IVº a.C..

Aristóteles descreve o oikos como uma comunidade naturalmente constituída para a satisfação das necessidades quotidianas[7] cujos membros são definidos como aqueles que foram criados com o mesmo alimento.[8].

Mas a delimitação aristotélica das funções do lar opera numa flutuação entre dois termos: oikos e oikia (grego: οἰκία), que podem ser traduzidos da mesma forma, como na passagem da Política (1252b 9-22). Mas oikos e oikia nem sempre significavam a mesma coisa. Xenofonte diz que a primeira palavra alude à casa no sentido estrito de local de residência, enquanto a segunda designa não só a casa mas também a propriedade.[9] Mas esta distinção não era aceite pelos autores gregos. Os testemunhos de alguns oradores áticos, como Isócrates e Iseu, indicam que oikia podia conotar não só a casa, mas também a família ou a propriedade,[10] pelo que o seu sentido era oposto ao de oikos. Em todo o caso, no contexto do direito ateniense, era habitual que oikia significasse casa e oikos propriedade ou família. Há também um uso de oikos como "pequeno edifício sagrado" (templo grego).[11]

O oikos era a pedra angular desta sociedade antiga. No entanto, no século V a.C., os autores gregos antigos opuseram a natureza do oikos à ordem política (cosmos da polis) que se pretendia impor; o conflito entre os dois foi tratado na Teatro trágico grego.[12].

O propriamente político da tragédia não é o conflito entre as polis ou o conflito de poderes dentro da polis... mas o conflito entre a polis e o oikos, esse fundamento arcaico que excede a lei de la polis e nunca pode ser completamente submetido a ela. O oikos que é também - significativamente - o radical etimológico da palavra economia. ... Mas, ao mesmo tempo, já na Tragédia, se pretende a renúncia ao oikos, ao fundamento arcaico e singular, e a necessidade da generalização de uma ordem exclusivamente político, de um Logos que se afirma como o único consciente mas ativamente humano, que ofereçe uma forte repressão de qualquer fundamento fora do "discurso".[13]

A relação entre o oikos e a polis não foi exclusiva nas poleis clássicas. Particularmente em Atenas Antiga, durante o período democrático ao mudar do domus ao demos, a polis foi retratada como um oikos em grande escala e, na medida em que o oikos era visto como uma entidade autónoma e ao mesmo tempo parte da polis, não excluída ou oposta a ela.[14] No entanto a corrupção. do ordem legislativo das polis levaria ao conflito, e ás fracassadas tentativas de repressão.

Referências

  1. Pablo Soriano, história do habitar, pp. 48-49: Das vigas de madeira, que suportavam todo o madeiramento da chaminé, vem a palavra Oikos, que em grego servia para designar o grupo doméstico, o nosso equivalente de família. O conceito de família, no entanto, divide-se na Roma em duas palavras: oikos, que significa a propriedade do chefe de família (o telestai micénico), que inclui os seus membros, escravos, animais e coisas de valor; e génos, que significa a pertença por filiação sanguínea a um grupo maior que partilha o mesmo antepassado genitor. Da palavra oikos deriva a palavra oikia que se refere ao edifício que alberga o grupo doméstico, oikeios aos familiares e oiketai aos criados. O Oikos (grupo doméstico, casa) é, então, complementado pelo eschara (hearth), materializado por um eixo vertical central no edifício, que representava o centro do mundo existencial da família. Há ainda uma outra palavra grega que era usada para se referir à família, a palavra epistion, que significava aquilo que está perto da lareira
  2. Florenzano, Maria Beatriz Borba. Pólis e oîkos, o público e o privado na Grécia Antiga. São Paulo: Labeca –MAE-USP,2001
  3. MacDowell, D.M. (1989). «The Oikos in Athenian Law». The Classical Quarterly. 39 (1): 15 
  4. Cox, Cheryl Anne (1998). Household Interests: Property, Marriage Strategies, and Family Dynamics in ancient Athens. [S.l.: s.n.] p. 190 
  5. Brandão, Jacyntho Lins. Recensão bibliográfica. O Econômico de Xenofonte. Kleos, S N .2/3: 221-227, 1998/1999
  6. Halverson, citado em Donald Lateiner, Sardonic Smile: Nonverbal Behavior in Homeric Epic, pg. 132.
  7. Aristóteles, Política 1252b 12-4
  8. T. W. Gallant, Risco e sobrevivência na Grécia antiga. Reconstructing the rural domestic economy, Cambridge, 1991, 11-5
  9. Kenofonte, "Económico" i.5
  10. Isócrates xix.7, Iseu vi.18
  11. Donald White,The Extramural Sanctuary of Demeter and Persephone at Cyrene..., pg. 177: "Estas estruturas modestas não chegam a ser templos completos e, como tal, assemelham-se vagamente a edifícios semelhantes encontrados em Eleusis, Acargas, no santuário de Malophoros em Selinus, e em Acrocorinto, bem como num número discreto de outros locais onde o tipo de pequeno edifício sagrado é referido como oikos, megaron, tamieion, neokorion, thesauros e anactoron. Aqui eles parecem ser designados localmente como simplesmente naoi.;
  12. RODRÍGUEZ CIDRE, Elsa; BUIS, Emiliano; ATIENZA, Alicia (eds.), El oîkos violado: genealogías conflictivas y perversiones del parentesco en la literatura griega antigua, Editorial de la Facultad de Filosofía y Letras, Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires, 2013, 292 pp. ISBN 978-987-1785-81-0. Review in Circe clás. mod. vol.17 no.2 Santa Rosa Dec. 2013
  13. Eduardo Grüner, La Tragedia, o el fundamento perdido de lo político, CLACSO, 2002. Também em Emanuel Terray (ed.), La política en la caverna, Del Sol, 2009. Também na sua citação e glosa (nota 10) em Social transformation, memória colectiva e cultura(s) popular(es), PT, 2011, pg. 51 et seq.
  14. Ojakangas, Mika (2020). «Polis and Oikos : The Art of Politics in the Greek City-State». doi:10.1080/10848770.2020.1721828 

Previous Page Next Page






Oikos Catalan Oikos German Oikos English Oikos Spanish Oikos French Oikosz Hungarian Oikos ID Oikos Italian Oikos (begrip) Dutch Oikos (forntida grekiska) Swedish

Responsive image

Responsive image