O eurocentrismo é uma visão de mundo que coloca a Europa como o elemento fundamental na constituição da sociedade moderna, sendo necessariamente a protagonista da história da humanidade. Estabelecido durante o renascimento, o eurocentrismo estabelece a hierarquia das relações de poder mundial e uma narrativa histórica de superioridade da Europa Ocidental, servindo como modelo teórico de interpretação e dominação. É baseado em valores como Modernidade, Estado-nação, pluralismo cultural, desenvolvimento econômico, indivíduo, distinção entre público e privado, sociedade civil, esfera pública e racismo, e parte de um discurso colonialista que vê a Grécia como berço da civilização. Dessa forma, o eurocentrismo gera uma distorção do mundo não europeu, enquanto narra a história da Europa, colocada como modelo e ponto de partida para outras narrativas, isolada da influência externa.[1]
Ao longo do século XX, na Ásia, nas Américas e no continente africano, a preocupação em teorizar as relações centro-periferia colabora para o questionamento da visão eurocêntrica do mundo expressa de longa data por intelectuais europeus e norte-americanos. Próximos da filosofia e da teoria crítica, autores como James Morris Blaut e Samir Amin, que popularizou o termo na década de 1970, buscaram definir o eurocentrismo a partir do fim do século XX. O mesmo trabalho foi realizado, na América Latina, por autores próximos da teoria decolonial, como Aníbal Quijano e Enrique Dussel, e há trabalhos como os de André Gunder Frank, que propõem uma perspectiva "globalcêntrica" da história, em oposição a eurocentrista comumente vista. A sociologia histórica, a teoria pós-colonial e o decolonialismo despontam, assim, como importantes perspectivas de oposição ao eurocentrismo.
Na geografia, a visão eurocêntrica se faz perceptível ao dividir o mundo espacialmente com o intuito de reafirmar a supremacia da Europa em um aspecto global. Termos como “Ocidente” e “Oriente”, assim como as definições de “Oeste” e “Leste”, foram construídos historicamente. Partindo da Europa como referência, divide-se o mundo em três partes, onde o Primeiro Mundo engloba o continente Europeu e outros países que são considerados potências capitalistas, enquanto o Segundo e Terceiro Mundo são os países considerados pobres e não capitalistas.
A União Europeia foi consolidada politicamente como um Estado-nação unido e coeso sob uma identidade nacional, mais especificamente uma identidade europeia, que abarca elementos culturais, políticos, econômicos, sociais e históricos em comum. A criação de símbolos, mitos, bandeiras, hinos, ajudou a afirmar essa identidade europeia, que também é um sentimento de pertencimento político, cívico e democrático. Mas esse sentimento se estrutura na ideologia eurocêntrica de hierarquização e racialização do modelo colonial de dominação e exploração. Ao passo que os direitos dos cidadãos europeus foram regulamentados e as políticas externas com relação aos direitos migratórios reforçam a discriminação entre europeus e não europeus.