A Guerra Civil Russa foi um conflito armado múltiplo que eclodiu no território do já dissolvido Império Russo, envolvendo o novo governo bolchevique, alçado ao poder desde a Revolução de Outubro de 1917, e seus opositores, incluindo militares do antigo exército tsarista, conservadores e liberais favoráveis à monarquia, além de grupos ligados à Igreja Ortodoxa Russa e a correntes socialistas minoritárias (mencheviques). A data exata do início do conflito é controversa entre os historiadores: alguns defendem que teria ocorrido logo após a Revolução de Outubro (em 7 de novembro de 1917, segundo o calendário gregoriano), enquanto que, para outros, teria sido na primavera de 1918. A guerra civil perdurou até 1923, embora a maior parte dos combates já tivesse cessado em 1921, com a vitória dos bolcheviques.[2]
Durante este período, exércitos e militares de diversos matizes políticos se enfrentaram com o objetivo de implantar o seu próprio sistema. As partes em conflito incluíam: o Movimento Branco, formado por ex-generais czaristas; republicanos liberais (os "cadetes" [nota 2]); o Exército Vermelho (bolchevique); milícias anarquistas (o Exército Insurgente Makhnovista, conhecido como "Exército Negro";[3] durante a Revolução Ucraniana), o nacionalista Exército Verde;[3] exércitos separatistas, como o Exército Azul; e tropas de ocupação estrangeiras. Excetuando as perdas territoriais devidas a movimentos separatistas, o Exército Vermelho foi o único vencedor do conflito, após o qual foi criado o Estado Soviético, sob liderança dos bolcheviques.[4]
Aproveitando-se do verdadeiro caos em que o país se encontrava, as nações aliadas da Primeira Guerra Mundial resolveram intervir a favor do Exército Branco (czaristas e liberais). Tropas britânicas, neerlandesas, norte-americanas e japonesas desembarcaram tanto nas regiões ocidentais (Crimeia e Geórgia) como nas orientais (ocupação de Vladivostok e da Sibéria Oriental). Seus objetivos declarados eram: derrubar o governo bolchevique (que era favorável à paz com o Império Alemão) e instaurar um regime favorável à permanência da Rússia na guerra. Todavia, o objetivo não declarado era evitar a propagação dos ideais comunistas pela Europa Ocidental mediante barreiras físicas — daí a expressão Cordon Sanitaire, utilizada em 1919 por Georges Clemenceau, primeiro-ministro da França -, além de promover o isolamento diplomático e comercial da Rússia, política adotada já nos primeiros anos da década de 1920, pelos países da Entente.[5][6]
No terreno económico, devido à situação de emergência e pelo próprio ímpeto revolucionário, o partido bolchevique instituiu o "comunismo de guerra".[4] O dinheiro e as leis do mercado foram abolidas, sendo substituídos por uma economia dirigida baseada na tributação em género sobre cereais produzidos pelos camponeses.[7] Uma das consequências negativas destas medidas foi desencorajarem o plantio, por levarem os camponeses a sentir que bastaria produzir para sustento de suas famílias,[7] o que resultou em os centros urbanos ficarem sem alimentos, provocando um êxodo das cidades para o campo — Petrogrado (atual São Petersburgo) e Moscou viram sua população reduzir-se pela metade.[8] Estes factores terão contribuído, na conjuntura da guerra civil e das intervenções estrangeiras, para a fome russa de 1921 — uma das maiores mortalidades na Rússia moderna, em que pereceram cerca de 6 milhões de pessoas.[8]
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