Socioconstrutivismo é uma abordagem interdisciplinar nas ciências humanas (sociologia, pedagogia e psicologia) que tem por objeto o conhecimento e sua gênese, segundo a qual o desenvolvimento humano é socialmente situado e o conhecimento é construído através da interação com os outros.[1]
É, igualmente, tratada na psicologia contemporânea, mais especificamente da psicologia da aprendizagem, começada com a obra de Lev Vygotsky, enfatizada em seus aspectos histórico-culturalistas.[2]
Ela tem recebido denominações variadas, como ‘socioculturalismo’ ou ‘construtivismo social’, embora não tenha qualquer ligação com o strong programme. James Wertsch define como objetivo da abordagem socioconstrutivista da Psicologia a explicação das relações entre o funcionamento da mente humana e as situações culturais, institucionais e históricas nas quais este funcionamento ocorre.[1][3]
Como o construcionismo social, o construtivismo social afirma que as pessoas trabalham juntas para construir artefatos. Enquanto o construcionismo social se concentra nos artefatos que são criados por meio das interações sociais de um grupo, o construtivismo social se concentra no aprendizado de um indivíduo que ocorre por causa de suas interações em um grupo.[1][4]
Um exemplo muito simples é um objeto como um copo. O objeto pode ser usado para muitas coisas, mas sua forma sugere algum "conhecimento" sobre o transporte de líquidos. Um exemplo mais complexo é um curso online – não apenas as "formas" das ferramentas de software indicam certas coisas sobre como os cursos online devem funcionar, mas as atividades e textos produzidos dentro do grupo como um todo ajudarão a moldar o comportamento de cada pessoa dentro desse grupo. O desenvolvimento cognitivo de uma pessoa também será influenciado pela cultura em que está envolvida, como a língua, a história e o contexto social. Para um relato filosófico de uma possível ontologia social-construcionista, ver o debate sobre Realismo direto e indireto.[1][4]
Rejeitando a noção de que a origem da construção do conhecimento é o indivíduo, essa a corrente adota a tese de que o conhecimento é uma construção social fruto de interação entre sujeitos.[5]
Vygotsky, influenciado por Karl Marx, tentou encontrar uma resposta de caráter nuclear para as funções psicológicas superiores humanas que evitasse o dualismo mente-corpo.[5] Seu modelo de aprendizagem queria ser uma alternativa marxista à concepção construtivista piagetiana centrada no indivíduo. Para ele toda função psicológica aparece duas vezes: primeiro em nível social e, mais tarde, em âmbito individual: primeiro entre pessoas – interpsicológica – e depois, no interior da própria criança – intrapsicológica. Isto poderia ser aplicado igualmente à atenção voluntária, à memória lógica e à formação de conceitos: para Vygotsky todas as funções superiores são construções que se originam como relações entre seres humanos.[6] Esta tese é oposta a do suíço Jean Piaget, que vê o desenvolvimento das estruturas cognitivas como necessário para possibilitar a aprendizagem.[7]
Para Piaget a transmissão social é necessária para o desenvolvimento das funções cognitivas em nível mais avançado, mas não suficiente, porque a ação social é ineficaz sem assimilação ativa da criança, o que pressupõe instrumentos operatórios adequados. A abordagem socioconstrutivista tem em comum com o construtivismo social a convicção de que o conhecimento é uma produção social. No entanto, apesar de suas indefinições ontológicas, essa abordagem adota um realismo ontológico.[8]